domingo, 7 de outubro de 2012

A questão da Arte


 

    Arte é um conceito bastante amplo e de difícil definição. Está associado a idéias como criatividade e criação, conceitos que muitas vezes são tomados como sinônimos. É fácil, no entanto, confundir arte com suas técnicas preparatórias, ou seja exercício, afinação e capacidade de manuseio dos instrumentos de expressão. Esta primeira e necessária etapa supre os indivíduos daquilo que chamamos de habilidades – no caso da pintura por exemplo, o domínio dos pinceis, das combinações de cores; no caso de artes literárias, o domínio da gramática e ortografia; no caso da dança temos os alongamentos, a conscientização e capacitação corporal, e assim por diante. Porém é somente quando estas habilidades são postas a serviço da alma, segunda etapa, que pode surgir o que chamamos de arte. São muitos os que estacionam e permanecem na primeira etapa.
    O domínio do instrumento de expressão é fundamental para que o evento artístico se dê, porém não se deve confundir habilidade com arte. Arte está relacionada com a expressão da alma através de uma determinada habilidade. Arte tem a ver com esta capacidade de revelar algo de forma única. Para tal é necessário o contato consigo próprio e com o que nos cerca, capacidade de estar ligado à vida. Alguns chamam isto de sensibilidade. Nossa cultura (eminentemente masculina) venera a habilidade, a definição, a certeza, ou seja, o domínio e a posse de algo. Deixar-se parcialmente aberto, sem certezas absolutas, de modo geral não é bem visto, é considerado muitas vezes fraqueza. Os artistas, muitas vezes, por freqüentarem este terreno, causam impacto sobre o grupo social no qual estão inseridos.
    Vê-se freqüentemente uma série de eventos propalados como “acontecimentos artísticos” que, a um olhar mais apurado, se revelam como uma "exaltada" habilidade. Habilidade é parte do evento artístico; é o aspecto “eu sei” do evento, aquele que tem posse sobre algo. O evento artístico necessita do contraponto do “não sei”, do deixar em aberto, da relação com o vazio (nos primórdios denominado “Caos”). A possibilidade de suportar o vazio, e a partir daí desenvolver um diálogo com a própria obra, permitindo que ela  revele coisas ao próprio autor, é o que penso ser a dor e a delícia da arte. É aquilo que sem dúvida caracteriza a arte. É a expressão viva do processo criador, ou seja: criador e criatura em diálogo.
    Cada vez que nos pomos à caminho, aliando ao nosso conhecimento doses de vazio, estamos nos pondo em conexão com a vida e mantendo-nos despertos. Uma atitude absolutamente necessária e que vem sendo finalmente admitida no âmbito do respeitável mundo do pensamento científico. 

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