domingo, 6 de novembro de 2011

Só o impossível acontece, o possível é mera repetição. “Chacal”

Só o impossível acontece, o possível é mera repetição. “Chacal”

Fazer o que já se sabe fazer é fácil e não requer esforços, não acrescenta. È mera repetição. Se examinarmos atentamente, no fundo não produz uma satisfação profunda a quem se expõe. Rapidamente se esvai o contentamento com o eco dos aplausos. Já o sabor de quem realiza algo novo para si mesmo, algo que nunca fez, permanece por longo tempo. Esta nova ação é crescer, tornar-se maior.

É importante nos defrontarmos com momentos de “não saber”, de não termos as respostas imediatamente, de nos “sentirmos bobos”. São valiosos os momentos onde aparentemente nos apresentamos com manifestações que avaliamos como ridículas.
A sensação de mal estar é simplesmente resultado de uma má interpretação daquilo que nos sucede. É uma reação a idéia de que vão nos olhar com desprezo, vão nos diminuir, desvalorizar, depreciar. Uma idéia cultivada socialmente.

Pensando bem, ninguém ridiculariza uma criança que está começando a andar, e que desajeitadamente tenta caminhar, e cai. Todos, em geral, em torno da criança, a olham com afeto e incentivo. E aplaudem seu esforço de acertar. O mesmo não ocorre entre adultos que muito comumente se esforçam por não se porem à prova, muito mais pelo temor ao ridículo e demonstração de torpeza do que pelas dificuldades em si para a realização de algo.

O que de fato acontece a nível fisiológico, numa situação nova para a pessoa, são oportunidades de inauguração de novas sinapses (conexões neuroniais). Isto confere maior numero de alternativas, e de respostas às circunstancias e eventos. Em outras palavras: uma possibilidade de ficar mais inteligente.

Fomos treinados para o desempenho. Tratamos ao máximo de evitar as surpresas, não tanto para uma eficiência, mas para não “darmos vexame”.

O novo é sempre desejado, porém temido. O novo dá medo, pois nos expõe, e com isso corremos o risco de demonstrar inabilidade, surpresa, desajeitamento e possibilidades de sermos julgados. O novo exige estar desperto, exige mudanças, inclusão de outros olhares, outras posturas, um rearranjo interno, enfim transformações. No entanto, “Queremos que as coisas mudem desde que permaneçam no mesmo lugar”.

Quando propomos a uma criança: Vamos fazer uma brincadeira? Elas em geral respondem Vamos, vamos! Já a adultos quando se propõe uma brincadeira, ou uma dinâmica nova não vêem isso como uma experiência ou oportunidade, vêem como uma situação de perigo. Uma situação de exposição onde se sentem na obrigação de apresentar um desempenho, de cumprir uma tarefa. Advém o medo do julgamento, da avaliação. Uma criança não é tão orgulhosa. Ela sabe que não sabe, e aceita esta condição, enquanto um adulto muitas vezes teme expor seu desconhecimento.

Enfim perdemos de vista que o que permite um crescimento real não é necessariamente acertar, cumprir as tarefas, mas um sincero tentar, um franco buscar fazer o melhor possível. É exatamente esta dedicação e esforço que permitem nosso crescimento.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Necessidade de Expressão e o Fascínio pelo Criminoso.

Temos todos nós um “jeito”, ou seja, um repertório de movimentos, gestos, posturas, respirações, olhares, ritmos, tons de voz e palavras que revelam de forma tangível como administramos a nós mesmos. Circunscrevemo-nos a este repertório e, aí de dentro desta arena, tratamos de resolver todas as questões que se nos apresentam.
Exaltamos certos comportamentos e evitamos alguns outros, em outras palavras, seguimos algum tipo de modelo que julgamos adequado, e tratamos de preencher esta imagem/modelo. Sentimo-nos atacados no caso de alguém apontar em nós algo que fuja deste modelo, e enaltecidos e agradecidos quando alguém nos aponta uma característica que preenche o modelo adotado.
Construímos um ser artificial e perambulamos mundo afora, fantasiados com ele – acabando por acreditar que somos este personagem. Esquecemos que para mantermos algo artificial consumimos uma enorme quantidade de energia. Fazemos imenso esforço para evitar parecer, por exemplo: egoísta, falso, orgulhoso e por aí vai. Outros, por sua vez, procuram desesperadamente mostrar constantemente, por exemplo, coragem, inteligência, calma, força, ou qualquer outra postura. Morrem de medo de parecer algo que consideram negativo. Há um grande consumo de energia para parecer alguma coisa, e/ou não parecer outra. Vivemos, uns mais que outros, preocupados com a impressão que damos aos demais. Esta atitude devora nossa energia, e nos distancia de nós mesmos. Acabamos por nos perder de vista, e não sabermos o que de fato sentimos e pensamos, tão acostumados estamos em buscar o “comportamento correto” ou o preenchimento do modelo eleito.
Recuperar as possibilidades expressivas, ou seja, poder manifestar um maior leque de expressões, permitindo viver emoções e sentimentos “proibidos” (pelo modelo eleito) devolve ao circuito humano a energia hipotecada na contenção e regulagem daquilo que pode ou não vir à tona (narcisismo). Dá espaço para um enorme descanso. A falta de energia que muitos de nós sentimos deriva do represamento de expressões eleitas como proibidas.
A imposição de conceitos de bem e de mal, certo e errado, determinados pelo modelo, levam a limitações na compreensão e aceitação de si e dos outros. Se o espaço de expressão de um indivíduo for limitado haverá consequentemente, menos espaço para compreensão da vida e da inclusão de mais formas de viver.
Não é a toa que esta falta de espaço de expressão aumenta o fascínio pelo criminoso ou transgressor. A fascinação pelo criminoso é a fascinação pelo rompimento dos códigos, dos limites, das convenções. Isto comumente deriva da sensação de estar vivendo um espaço restrito de possibilidades e do desejo de abrir mais espaço para si.
A condenação ao transgressor origina-se muitas vezes da censura àquele que ousou romper ditames sociais, convenções, algo que, secretamente desejamos também romper. Não tendo coragem para fazê-lo condenamos aqueles que o fazem para que possamos aplacar estes sentimentos “inadequados” e manter-nos nas nossas mesmas atitudes de sempre.