sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma carta para todos

A carta abaixo foi escrita por um imigrante vietnamita que é policial no
Japão (Fukushima). Foi enviada a um jornal em Shangai que a traduziu e
publicou. Recebi essa tradução, com a nota de ter sido traduzida o mais
fielmente possível ao texto original.

Querido
irmão,

Como estão você e sua família? Estes últimos dias têm sido um verdadeiro
caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os abro, também vejo
cadáveres.

Cada um de nós está trabalhando umas 20 horas por dia e mesmo assim,
gostaria que houvesse 48 horas no dia para poder continuar ajudar e resgatar
as
pessoas.

Estamos sem água e eletricidade e as porções de comida estão quase a zero.
Mal conseguimos mudar os refugiados e logo há ordens para mudá-los para
outros lugares.

Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina nuclear. Tenho
tanto a contar que se fosse contar tudo, essa carta se tornaria um
verdadeiro romance sobre relações humanas e comportamentos durante tempos de
crise.

As pessoas aqui permanecem calmas – seu senso de dignidade e seu
comportamento são muito bons – assim, as coisas não são tão ruins como
poderiam. Entretanto, mais uma semana,e não posso garantir que as coisas
não cheguem a um ponto onde não poderemos dar proteção e manter a ordem de
forma
apropriada.

Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome e a sede se sobrepõem à
dignidade, eles farão o que tiver que ser feito para conseguir comida e
água. O governo está tentando fornecer suprimentos pelo ar enviando comida e
medicamentos, mas é como jogar um pouco de sal no
oceano.

Irmão querido, houve um incidente realmente tocante que envolveu um
garotinho japonês que ensinou a um adulto como eu uma lição de como se
comportar como verdadeiro ser humano.

Ontem à noite fui enviado para uma escola infantil para ajudar uma
organização de caridade a distribuir comida aos refugiados. Era uma fila
muito longa . Vi um garotinho de uns 9 anos. Ele estava usando uma camiseta
e um par de shorts.

Estava ficando muito frio e o garoto estava no final da fila. Fiquei
preocupado se, ao chegar sua vez, poderia não haver mais comida. Fui falar
com ele. Ele disse que estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai
trabalhava perto e estava se dirigindo para a escola. O garoto estava no
terraço do terceiro andar quando viu a tsunami levar o carro do seu
pai.

Perguntei sobre sua mãe. Ele disse que sua casa era bem perto da praia e que
sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram. Ele virou a cabeça
para limpar uma lágrima quando perguntei sobre sua família.

O garoto estava tremendo. Tirei minha jaqueta de policial e coloquei sobre
ele. Foi ai que a minha bolsa de comida caiu. Peguei-a e dei-a a ele.
“Quando chegar a sua vez, a comida pode ter acabado. Assim, aqui está a
minha porção. Eu já comi. Por que você não come”?

Ele pegou a minha comida e fez uma reverência. Pensei que ele iria comer
imediatamente, mas ele não o fez. Pegou a bolsa de comida, foi até o início
da fila e colocou-a onde todas as outras comidas estavam esperando para
serem distribuídas.

Fiquei chocado. Perguntei-lhe por que ele não havia comido ao invés de
colocar a comida na pilha de comida para distribuição. Ele respondeu:
“Porque vejo pessoas com mais fome que eu. Se eu colocar a comida lá, eles
irão distribuir a comida mais igualmente”.

Quando ouvi aquilo, me virei para que as pessoas não me vissem chorar.

Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9 anos que compreende o
conceito de sacrifício para o bem maior deve ser uma grande sociedade, um
grande povo.

Envie minhas saudações a sua família. Tenho que ir, meu plantão já
começou.

Ha Minh Thanh

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Verbos

Não importa exatamente a sua profissão. os seus títulos, o que importa no final, são os verbos que você conjuga.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma Grande Páscoa

A grande páscoa ou, uma iniciação coletiva

Em tempos passados aqueles que desejavam ir além do conhecimento vigente. Aqueles que pressentiam que havia algo além da realidade descrita pelo senso comum da época. Aqueles que desejavam algo mais, hoje descrito como um “crescimento interior”, “expansão de consciência” ou acesso a suas almas, buscavam algum lugar, alguma escola ou grupo com o qual pudessem explorar regiões diferentes do conhecimento humano. Isto era desenvolvido de forma circunscrita a grupos secretos, a grupos esotéricos.

Esta necessidade de reserva, de cuidado era necessária, já que envolvia acesso a olhares, e atitudes e abordagens da realidade fora do âmbito da cultura vigente. Tudo isso sujeito a facilmente gerar distorções que poderiam e puderam dar lugar a incompreensões e, sobretudo medos, podendo levar a acusações de feitiçaria, bruxaria e outros nomes.
Nestes grupos, os neófitos, após algumas instruções preliminares, eram submetidos a rituais de iniciação que envolviam provas de desapego e des-identificação com o objetivo não só de assegurar que estes conhecimentos fossem mantidos em sigilo, mas acima de tudo para testar a estrutura psíquica dos candidatos.

Eu mesmo vivi uma época, anos setenta, em que falar de “energia” já era uma ousadia. Este termo feria muitos intelectos e causava estranheza. Falar de centros energéticos era blasfêmia pura, ocasionava cenhos franzidos e, com muita condescendência era considerado “exótico”. (Convenhamos que mesmo hoje em dia uma grande parte da população ainda olha com desconfiança pessoas que dizem ir ao psicólogo!).

Por outro lado há uma vulgarização imensa de termos psicológicos que constam de livros, revistas assim como de novelas de TV. Abundam em todos os meios de comunicação termos como: energias, vibrações, espírito, alma, anjos, etc. Tudo isso é reunido criativamente num sincretismo desvairado que junta religiões, culturas orientais, medievais, ancestrais, indígenas e extraterrestres. Cada pessoa se mune de suas figuras de referência e constrói seu panteão, seu altar, temperado por cristais, velas, incensos, fotos, e rituais.

Intelectualmente os tempos de grupos esotéricos ou secretos não são tão mais necessários, o conhecimento com respeito a aspectos que outrora eram do âmbito de poucos se alastra. Uma ampla literatura aborda o mundo sob diversas óticas onde se tece com desenvoltura ciência, religião, misticismo e o termo “espiritualidade”. Tudo isso acessível em quaisquer livrarias, bibliotecas, ou pela internet
.
Em termos vivenciais, por outro lado, é interessante observar que aquelas iniciações reservadas a poucos candidatos que voluntariamente se apresentavam, neste momento planetário se tornaram públicas, gerais e coletivas. Se não vejamos: Estão aí os terremotos, tsunamis, enchentes, desabamentos e outras ações climáticas. Em termos sociais as possibilidades de, por exemplo: uma demissão, uma separação conjugal, uma ameaça à saúde, uma perda financeira, uma revolução, um acidente, crescem exponencialmente, submetendo-nos cotidianamente a provas de desapego e des-identificação.

Em suma estamos todos sendo iniciados. Podemos presumir que nossa humanidade está passando por um estágio de crescimento compulsório.

São provas agudas. Não são “castigos” como uns se apressam em diagnosticar. Correspondem a uma necessidade coletiva de crescimento. Verdade que doem. O sofrimento que vemos a nosso redor é prova disso. Mas a dor é maior quando nos revoltamos, recusamos e rechaçamos este crescimento. É tempo de começarmos a desapegar-nos de coisas e idéias, soltar nossas identificações, com coisas, com pessoas, com sentimentos e idéias.

Será mais fácil ainda se nos ajudarmos mutuamente neste processo. Além disso, já é tempo de nos reconhecermos como humanidade e não apenas como um bando de indivíduos habitando e disputando lugar numa nave interplanetária que percorre o espaço á milhares de quilômetros por hora.
Um abraço
Michel
  

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A fantasia da compreensão


Explicação e compreensão das coisas é uma de nossas fantasias. Se organizarmos explicações e encadearmos idéias que façam sentido em nossa base de parametros aceitos, nos acalmamos. "Foi por causa disso", "Foi por causa daquilo..." até que se gere um "AH! Agora sei porque..."

De qualquer modo vivemos em estados pós-hipnoticos. Se alguém nos disser algo que associamos com algo bom, ficamos felizes. Se alguém nos disser algo que associamos com algo ruim ficamos tristes. Caminhamos pelo mundo dessa maneira.
Penso também no gesto de uma mãe que arranca enérgicamente a faca da mão do bebê que então por isso se lança num choro de soluçar...Tragédia! Não percebe que esta faca poderia feri-lo e a outros. Só entende que lhe foi arrancada uma coisa linda que brilhava em sua mão.
Nós, em geral, como bebês não temos a capacidade de perceber a vida em suas dimensões mais amplas. Julgamos a partir do que nossa mente decodifica, ou melhor, inventa e se agarra para aguentar e nos acalmar enquanto habitamos esta dimensão.

Abraços