quinta-feira, 6 de julho de 2017

Meu corpo entregue à musa Jocy



 
Quando Jocy começou em minha vida? Não lembro bem. Ela não é uma pessoa de datas ela é uma pessoa de arte, de realizações e de uma firmeza impressionantes. Ela não é cronológica. Ela é foco, proposição.

Minha contribuição para os trabalhos de Jocy foi, sobretudo, meu trajeto no campo do corpo, da dança. Da combinação de dança contemporânea, clássica, moderna e de expressão corporal. Meu percurso no teatro também se ofereceu aos trabalhos multimídia de Jocy. Essas foram minhas moedas de troca artística.
 
Talvez o que de Jocy está mais presente em mim é seu olhar penetrante.  Muitas vezes quase assustador de sério. Um motor de criatividade.

São diversas memórias de trabalhos. MAM (Museu de Arte Moderna do Rio), Estádio de remo da Lagoa, Teatro Municipal de São Paulo...,e CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) com INORI. Fora esses exemplos de espaços públicos, há os outros, mais aconchegantes que se desdobravam em encontros e longas conversas em sua casa para a troca de ideias, para falar e experimentar...e devanear.
 
Sua ousadia andava quilômetros à minha frente. Eu às vezes só conseguia compreender verdadeiramente suas propostas depois de um tempo. Entre temores e excitação eu acabava seduzido por suas ideias. 
 
Em INORI, por exemplo, havia uma cena onde eu me apresentava completamente nu no palco. Sinceramente, apenas Jocy para me convencer a me expor desta maneira.
 
O pior foi quando para realizarmos o vídeo de INORI fomos a uma praia situada num centro militar onde era necessário gravar complementos para as cenas registradas no palco. Era fundamental que eu me despisse para dar continuidade ao vídeo a ser montado.
 
E a vergonha? Ali estava eu, exposto aos olhos dos soldados que faziam a guarda. Constrangedor é uma palavra amena para descrever a sensação que vivi. Mas heroicamente cumpri a missão
.
O mais importante é que todos esses movimentos, todos esses trabalhos tinham sabor de aventura e proporcionaram encontros e trocas com gente interessantíssima e talentosa.
 
Ah! A música! Fui mergulhado, engolfado em um ambiente musical concreto e experimental. Eram instrumentistas talentosos e vários cantores magníficos: sopranos, contraltos, barítonos, baixos, todos projetados em cenários e luzes que se misturavam a minha volta. Impossível não mencionar as cantoras escolhidas, donas de vozes que alcançavam notas que aos meus ouvidos pareciam quase impossíveis para a voz humana. Sim, porque Jocy não deixava nada por pouco. Não só essas artistas cantavam, mas se arriscavam, impulsionadas por Jocy a se colocarem em posturas corporais inusitadas.
Todos nós fomos envolvidos por sua música, pelas suas cores, sons e luzes. Elementos que impregnam a alma de Jocy, que as traduz em obras inesquecíveis. São lembranças luminosas que geram um agradecimento profundo a essa Artista que está impressa, não apenas em minhas memórias  mas em meu sangue de dançarino. Por isso tudo sou grato, imensamente grato! 
 
Michel Robim

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