terça-feira, 16 de abril de 2013

O Todo, as Crianças e os Xamãs





O Todo, à que também chamo de Infinito Caos, existe e ponto. Creio que dentro da intensa magnitude desse Todo no qual estamos envolvidos, e do sentimento de estupor que ele nos causa, somos levados a organizar abordagens/visões em partes e seqüências que nos dêem uma ilusão calmante. Chamamos estas seqüências de compreensões e lógicas. Cultivamos e ensinamos estas seqüências para nos manter agasalhados do frio do Infinito Caos. O que chamamos de compreensão são essas ilusões compartilhadas. Depois de compartilhadas à exaustão passamos a denominá-las “verdades”. O mundo tem a plasticidade de conformar-se a estas “verdades”. Criamos assim a chamada “realidade” e as coisas passam a funcionar dentro desta “realidade”, criada e compartilhada.

Crianças pequenas como ainda não adotaram a “compreensão compartilhada” têm uma liberdade, criatividade e comportamentos que relacionamos com aspectos que decidimos intitular de maneira condescendente como “coisas de criança” ou “loucuras de criança”.

Muitas vezes irritados com essas “loucuras” as contrapomos e impomos nossas “realidades”, por vezes com tanta fúria que anulamos a liberdade e criatividade das crianças.

Xamãs, curandeiros e crianças têm a capacidade de organizar o Infinito Caos de forma dinâmica e à sua própria maneira. Podem acreditar e viver cada momento segundo uma forma. Quando quaisquer destas formas não se encaixam, ou não servem mais, passam à outra.

Algumas pessoas sofrem por relutar ou não acatar o pacto de “acreditar nas verdades montadas para fins de convivência”. Há certamente sofrimento na impossibilidade de encaixar-se nestas “verdades”. Esse sofrimento corresponde à dor de abrir mão de si mesmo, a desistir de si e submeter-se às verdades coletivas/culturais. Como há o aceno de diversos prêmios se assim o fizerem muitos acabam por fazê-lo. Alguns seguem ao longo da vida pagando o preço de não fazê-lo.

Já os xamãs podem trafegar entre “verdades” diferentes, organizadas de maneiras diversas. São capazes de dialogar com as “verdades” de diferentes pessoas. Como são plásticos e abertos podem transitar pelas estruturas das “verdades” carregadas por pessoas que os procuram para mitigar seu sofrimento. Xamãs podem dialogar com as pessoas dentro das “verdades” que elas criaram e ajudá-las a criarem novas “verdades” que as permitam viver sem tantos sofrimentos.

De certa forma sabemos de tudo isso e convivemos com estes fatos de maneiras mais ou menos integradas. Por sorte ou azar essas verdades flexíveis de nossa criança interna de quando em quando irrompem e produzem estranhas sensações. Assaltam-nos em sonhos, e por vezes em plena luz do dia. Sacudimo-nos e tratamos de seguir com nossa vida, mas uma vez isso tendo acontecido pode ser impossível seguir em frente incólume.

Nenhum comentário:

Postar um comentário