segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rio + Quanto? ou Uma história muito antiga


Rio + quanto?


Quando em conversas com amigos e outros interessados sobre sustentabilidade, economia verde e temas similares, ou seja, em posturas que permitam uma verdadeira mudança nos cuidados com o planeta, inevitavelmente chegamos sempre a um mesmo ponto. Espremido o suco, terminamos por concordar que em essência sabemos do que é necessário ser feito e que estamos fartos de enunciados e discursos em mil variações sobre o tema, mas com pouco movimento efetivo sendo realizado.

O que é então necessário para que sejam tomadas as óbvias providências e feitos os necessários movimentos?

Estas conversas nos levam num primeiro momento a diagnosticar de que era necessário falar não às cabeças das pessoas, mas ao seu emocional. Que discursos descritivos e explicativos já não movem ninguém. Todos mecanicamente aplaudem, mas dez minutos depois já estão envoltos em seus afazeres cotidianos e as belas idéias são postas nas prateleiras junto a tantas outras coisas interessantes que fazem parte de nossos armários de boas intenções.

No desenrolar de nossas trocas de idéias constatamos tristemente que mesmo com discursos emocionados e emocionantes, que muitas vezes arrancam lágrimas dos ouvintes, ocorre um processo de esvaziamento semelhante. Em pouco tempo outras preocupações e emoções se abatem sobre os que acabaram de jurar que iriam mudar e se engajar de corpo e alma, e novamente tudo volta ao estado de inércia.

Usando como metáfora a epopéia da saída dos judeus do Egito, pergunto: Quantas pragas foram necessárias para que o Faraó se sentisse verdadeiramente afetado e permitisse a saída dos judeus em direção à terra prometida?

As primeiras pragas que lá se abateram receberam rebuscadas explicações dos ministros do faraó que atenuaram suas preocupações. Pragas após pragas assolaram aquelas terras e somente após a décima, a morte dos primogênitos em que o próprio filho do faraó sucumbiu, é que este se dobrou e permitiu a movimentação de saída. Apenas depois de sentir-se pessoalmente e duramente afetado é que pode ser dada a permissão para o movimento de deslocamento de uma terra para outra, de uma realidade para outra.

Obviamente o faraó e Moisés são instancias que nos habitam, e que neste momento se confrontam de alguma forma dentro de nós. O que moverá nossa porção faraó?

Há um mar de coisas a serem atravessadas ademais com a certeza de vários desertos a serem cruzados. Estamos faraonicamente presos a formas culturais que envolvem, sobretudo, nossa política e economia que se revelam em vertiginosa obsolescência. São estruturas que se defrontam com necessidades de mudanças urgentes.

Vemos em torno de nós todos os sinais, na forma de eventos ecológicos, transtornos econômicos, políticos e sociais. Estas pragas se apresentam diante de nossos olhos, buscamos explicações consoladoras e com isso relutamos em reconhecê-las como gritos de alerta. Quais serão as pragas que se seguirão? Quantas serão ainda necessárias? Qual delas será tão insuportável que deflagre um movimento consistente que permita que abandonemos finalmente nossa inércia? Qual delas será trágica o suficiente para que nos movamos para fora desta situação a que relutamos abandonar e possamos chegar à Terra prometida que desejamos? Um Rio + quanto será necessário? E não me refiro apenas a tempo...mas a dor que estamos dispostos a suportar.       

4 comentários:

  1. Michel,
    Como sempre vc inspirado e inspirador!
    Grande abraço
    Gilberto

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente Maitreya,a loucura é que mesmo quando o emocional é tocado há um tempo de vigência, de reverberação da emoção, sobretudo em pessoas adultas (crianças são mobilizadas/tocadas com menos já que são mais sensíveis). Se não houver uma contínua mobilização (água mole em pedra dura)ou uma mobilização drástica (em geral catástrofes/tragédias), a "casca grossa" com a qual nos revestimos não permite uma real transformação nas atitudes. Penso sempre em educação (no sentido etimológico da palavra), lá nos nossos inícios de vida - um contato, ou um resgate do contato, com nossa estrutura mais essencial que é "energia, amor e inteligencia".

      Excluir
  3. Michel,

    Compartilho do mesmo sentimento descrito por você. Que após tantos discursos inflamados, as palavras são guardadas em caixas intocáveis e na prática os problemas deflagrados continuam os mesmos.
    Concordo totalmente que enquanto o emocional das pessoas não for tocado, pouca coisa mudará. Acredito que o ponto de partida é a mudança dentro de cada um. Só assim poderemos causar um efeito realmente significativo no ambiente em que vivemos.

    Um grande abraço,

    Maitreya.

    ResponderExcluir