Arte é um
conceito bastante amplo e de difícil definição. Está associado a idéias como
criatividade e criação, conceitos que muitas vezes são tomados como sinônimos. É fácil, no entanto, confundir arte com suas
técnicas preparatórias, ou seja exercício, afinação e capacidade de manuseio
dos instrumentos de expressão. Esta primeira e necessária etapa supre os
indivíduos daquilo que chamamos de habilidades – no caso da pintura por
exemplo, o domínio dos pinceis, das combinações de cores; no caso de artes
literárias, o domínio da gramática e ortografia; no caso da dança temos os
alongamentos, a conscientização e capacitação corporal, e assim por diante.
Porém é somente quando estas habilidades são postas a serviço da alma, segunda
etapa, que pode surgir o que chamamos de arte.
São muitos os que estacionam e permanecem na primeira etapa.
O domínio
do instrumento de expressão é fundamental para que o evento artístico se dê,
porém não se deve confundir habilidade com arte. Arte está relacionada com a
expressão da alma através de uma determinada habilidade. Arte tem a ver com
esta capacidade de revelar algo de forma única. Para tal é necessário o contato
consigo próprio e com o que nos cerca, capacidade de estar ligado à vida. Alguns
chamam isto de sensibilidade. Nossa cultura (eminentemente masculina) venera a
habilidade, a definição, a certeza, ou seja, o domínio e a posse de algo.
Deixar-se parcialmente aberto, sem certezas absolutas, de modo geral não é bem
visto, é considerado muitas vezes fraqueza. Os artistas, muitas vezes, por
freqüentarem este terreno, causam impacto sobre o grupo social no qual estão
inseridos.
Vê-se freqüentemente
uma série de eventos propalados como “acontecimentos artísticos” que, a um
olhar mais apurado, se revelam como uma "exaltada" habilidade. Habilidade é parte do evento artístico; é o aspecto “eu sei” do
evento, aquele que tem posse sobre algo. O evento artístico necessita do
contraponto do “não sei”, do deixar em aberto, da relação com o vazio (nos
primórdios denominado “Caos”). A
possibilidade de suportar o vazio, e a partir daí desenvolver um diálogo com a
própria obra, permitindo que ela revele
coisas ao próprio autor, é o que penso ser a dor e a delícia da arte. É aquilo
que sem dúvida caracteriza a arte. É a expressão viva do processo criador, ou
seja: criador e criatura em diálogo.
Cada vez que nos pomos à caminho, aliando
ao nosso conhecimento doses de vazio, estamos nos pondo em conexão com a vida e
mantendo-nos despertos. Uma atitude absolutamente necessária e que vem sendo
finalmente admitida no âmbito do respeitável mundo do pensamento científico.
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