Ao olhar em volta percebo cenários
e movimentos destrutivos e trágicos. Não se trata mais de “luta de classes”, de
busca por “igualdade”, “justiça” ou “distribuição de riqueza”. Estes enunciados,
quando eventualmente levantados, parecem ser desculpas para atitudes que tem
sua origem em outro campo.
EI (Estado Islâmico),
antisemitismo, homofobia, xenofobia, racismo, fundamentalismo, enfim ... pareceria
que o mundo está sendo tomado, contaminado por uma onda intensa de pensamentos
e posturas radicais e desvairadas de todos os tipos.
Discursos preconceituosos,
agressivos com pregações de violência são ouvidos pelos quatro cantos do
planeta. Jovens saem de seus países para se inscreverem em seitas, grupos e
guerras extremistas.
No Brasil se inauguram
grupos de jovens ligados a igrejas evangélicas envergando uniformes e
desfilando com atitudes militares.
O que é isso que tomou conta
do planeta? Loucura? Paranoia?
Na verdade não consigo
simplesmente condenar, ou como diz um amigo: “Não posso entoar: “Se eu fosse
D’us faria melhor”.
Penso que isso tudo deve
corresponder a algo com um sentido, parte de um processo. Por não entendê-lo
não posso julgá-lo, condená-lo e debitá-lo na conta da “maldade dos homens”. Ouso
pensar (talvez por uma angústia de encontrar sentido) que tudo isso corresponde
a uma etapa humana, inserida em um fluxo mais amplo. Algo que valeria então a
pena ser encarado a partir de um enfoque mais amplo.
Heiddeger diz: “Chegamos
tarde demais para os deuses e cedo demais para o Ser”. Assim este quadro
planetário poderia ser traduzido da seguinte maneira: estamos saindo da “infância
humana”, onde gurus, mamães e papais, dirigentes, legisladores e autoridades
(nossos “deuses”) – alguns escolhidos, que sabiam mais que todos outros – determinavam
as direções, posturas e caminhos a serem seguidos.
Estamos então numa saída da
infância e entrando na “adolescência planetária” que se apresenta com as
evidentes atitudes correspondentes.
Instaurou-se a adolescência
grupal humana no planeta, com características positivas onde a criatividade é
expoente, mas junto com elas muitas das características negativas da
adolescência. Ou seja: a fase onde burlar as leis, desafiar a ética, a estética
e os costumes é a tônica. Onde algumas das perguntas portadas por adolescentes:
“Até onde podemos ir em termos de comportamentos?, De maus tratos? De descaso
com os demais? Quais os nossos limites? Posso fazer qualquer coisa? A qualquer
tempo e lugar? Posso roubar? Matar? Enganar? Quem vai me parar?
Sair da infância pode ser
traduzido como desvencilhar-se dos antolhos do “nunca” e do “sempre”. Do “nunca
faça isso” ou do “sempre faça isso”. Sair da infância é ser capaz de discernir
o “que” fazer, “quando” fazer, “como” fazer, “onde” fazer, “com quem” fazer. Atitudes
que requerem crescimento e maturidade.
Para o crescimento como
seres humanos devemos passar a saber discernir e nos direcionar a partir de nós
mesmos, de nossa própria capacidade de escolhas e responsabilidades. Fundamental
saber nos encontrar com uma ética que provenha de nossa humanidade mais
essencial. Que tenha fundamento em nosso interior e não em exaltados e
reverenciados discursos de gurus externos.
Estamos sendo chamados a
crescer, evoluir, sair de regras pré-determinadas e generalizadas para o saber
eleger, escolher, discernir a cada momento o que é adequado ou não àquele
momento e situação.
Não somos uma humanidade homogênea,
com conceitos hegemônicos. As diferentes raças, origens, culturas e vivências
determinam uma heterogeneidade de olhares e percepções, posturas e atitudes.
Penso que é necessário rever
nossa tendência à competição onde alguém ou algo deve prevalecer. Onde há o enaltecimento
de um padrão que conduz quase sempre a uma hierarquização seguida de exclusão, característica esta que nos é inculcada desde o jardim de infância.
Percebo ao longe um
alvorecer de acolhimento de nossas heterogeneidades, dessas nossas diversidades. Percebo
um surgimento de GRUPOS VERDADEIROS. GRUPOS VERDADEIROS são aqueles que têm focos gerais comuns, mas é formados por pessoas com diversidade de
origem, percurso, formação, raça, credo e gênero. São grupos com capacidade de
valorizar e integrar as experiências e culturas de cada um dos seus componentes
São grupos que compõem e trazem à luz resultados criativos, novos, e os oferecem
ao mundo.
É essa luz que percebo no
horizonte.