quinta-feira, 20 de março de 2014

Uma Iniciação Coletiva

 Uma iniciação coletiva

Em tempos passados, aqueles que desejavam ir além do conhecimento vigente, aqueles que pressentiam que havia algo além da realidade descrita pelo senso comum, aqueles que desejavam algo mais, hoje descrito como um “crescimento interior”, “expansão de consciência” ou "acesso a suas almas", buscavam. Buscavam algum lugar, alguma escola ou algum grupo com o qual pudessem explorar regiões diferentes do conhecimento humano. Esse anseio podia ser encontrado e desenvolvido em forma circunscrita a grupos secretos, a grupos esotéricos.

Esta necessidade de reserva, de cuidado, era necessária, já que envolvia acesso a enfoque, atitudes e abordagens da realidade fora do âmbito da cultura vigente. Tudo isso sujeito a facilmente gerar distorções que poderiam, e puderam, dar lugar a incompreensões e, sobretudo medos, e levando a acusações de feitiçaria, bruxaria e outros nomes.
Nestes grupos, os neófitos, após algumas instruções preliminares, eram submetidos a rituais de iniciação que envolviam provas de desapego e des-identificação com o objetivo não só de assegurar que estes conhecimentos fossem mantidos em sigilo, mas acima de tudo para testar a estrutura psíquica dos candidatos.

Eu mesmo vivi uma época, anos setenta, em que falar de “energia” já era uma ousadia. Este termo feria muitos intelectos e causava estranheza. Falar de centros energéticos era blasfêmia pura, ocasionava cenhos franzidos e, com muita condescendência era considerado “exótico”. (Convenhamos que mesmo hoje em dia uma grande parte da população ainda olha com desconfiança pessoas que dizem ir ao psicólogo!).

Por outro lado há uma vulgarização imensa de termos psicológicos que constam de livros, revistas assim como de novelas de TV. Abundam em todos os meios de comunicação termos como: energias, vibrações, espírito, alma, anjos, etc. Tudo isso reunido criativamente num sincretismo desvairado que junta religiões, culturas orientais, medievais, ancestrais, indígenas e extraterrestres. Cada pessoa se mune de suas figuras de referência e constrói seu panteão, seu altar, temperado por cristais, velas, incensos, fotos, e rituais.

Intelectualmente os tempos de grupos esotéricos ou secretos não são tão mais necessários, o conhecimento com respeito a aspectos que outrora eram do âmbito de poucos se alastra. Uma ampla literatura aborda o mundo sob diversas óticas onde se tece com desenvoltura ciência, religião, misticismo e o termo “espiritualidade”. Tudo isso acessível em quaisquer livrarias, bibliotecas, ou pela internet
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Em termos vivenciais, por outro lado, é interessante observar que aquelas iniciações reservadas a poucos candidatos que voluntariamente se apresentavam, neste momento planetário se tornaram públicas, gerais e coletivas. Se não vejamos: Estão aí os terremotos, tsunamis, enchentes, desabamentos e outras ações climáticas. Em termos sociais as possibilidades de, por exemplo: uma demissão, uma separação conjugal, uma ameaça à saúde, uma perda financeira, uma revolução, um acidente, crescem exponencialmente, submetendo-nos cotidianamente a provas de desapego e des-identificação.

Em suma estamos todos sendo iniciados. Podemos presumir que nossa humanidade está passando por um estágio de crescimento compulsório.

São provas agudas. Não são “castigos” como uns se apressam em diagnosticar. Correspondem a uma necessidade coletiva de crescimento. Verdade que doem. O sofrimento que vemos a nosso redor é prova disso. Mas a dor é maior quando nos revoltamos, recusamos e rechaçamos este crescimento. É tempo de começarmos a desapegar-nos de coisas e idéias, soltar nossas identificações, com coisas, com pessoas, com sentimentos e idéias.

Será mais fácil ainda se nos ajudarmos e apoiarmos mutuamente neste processo. Além disso, já é tempo de nos reconhecermos como humanidade (grupo humano) e não apenas como um bando de indivíduos egocêntricos habitando e disputando lugar numa nave interplanetária que percorre o espaço á milhares de quilômetros por hora.