sexta-feira, 26 de novembro de 2010


Um Outro Olhar

                                                   Um outro olhar

Muitas vezes nos sentimos ridículos por “não saber”, por “não entender”, ou por não saber fazer direito alguma ação que nos é proposta. Sentimo-nos constrangidos, amargurados e tratamos de escapar da situação com desculpas de “agora não estou disponível”, outro dia quem sabe?”, ou mesmo críticas do tipo: “para que isto?”/ “qual o propósito desta proposta”?/ “Para que serve?” “A que isto leva?” ou outras formas de crítica.
Toda situação “nova” é vista, em geral, como desagradável, como questionadora de nossa capacidade e, portanto, tratamos de fugir da melhor maneira possível.
Ao diagnosticarmos que o que está sendo proposto não faz parte de nosso cotidiano e, conseqüentemente, não temos a destreza para realiza-lo, nos sentimos expostos, frágeis e vulneráveis.
Diversas situações novas são evitadas, ou seja, se por um lado enunciamos entusiasticamente o desejo do novo, por outro o tememos, pois ele traz uma exigência de mudanças, e passamos a encarar muito frequentemente o novo como um exame, uma prova de nossas capacidades, de nossas habilidades, nossos saberes.
Não estamos humildemente abertos á experiências novas, sobretudo a partir de determinada idade.
Expor-nos e mostrar um desajeitamento, um “não saber” muitas vezes tem o sabor de derrota. Estaremos sujeitos á criticas e classificações.
A experiência do novo passa a ser uma experiência angustiante. Passamos a querer transformar o novo em algo parecido com alguma coisa já conhecida, para poder lidar com ela.
Caímos sempre no medo, e medo já foi definido como o oposto do amor.
Se por outro lado compreendermos, ou interpretarmos a experiência nova como uma oportunidade de crescimento, de ampliação de nossas possibilidades (e percebermos que a nível fisiológico serão novas sinapses em construção), estaremos dando um passo em direção a ampliação de nosso repertório de respostas á vida. Uma chance maior de exercer mais plenamente o amor, a inteligência e a energia que somos.

domingo, 21 de novembro de 2010

Era uma vez, talvez tantas...


                                ERA UMA VEZ, TALVEZ TANTAS...       



        Era uma vez num lugar, uma província. Nesta província vigorava uma lei extremamente cruel. Uma lei que determinava que a cada mês, 30 presos, escolhidos em sorteio, deviam ser executados para que servissem como exemplo de que “leis eram para ser respeitadas, e jamais transgredidas”. A sentença de execução era assinada pelo governador da província em determinado dia do mês até o meio dia. Passado o meio dia e a sentença não sendo assinada, dizia esta mesma lei, os prisioneiros escolhidos deveriam ser perdoados e libertados, coisa esta que jamais havia ocorrido.
       Pois então era este fatídico dia, e o governador, em seu carro, dirigia-se ao palácio, para entre outras coisas assinar a dita sentença. Lá ia o governador observando de seu carro os afazeres e o cotidiano de seus cidadãos, quando sua atenção é chamada para dois meninos em seus jogos. Um deles corria atrás do outro numa espécie de brincadeira de pegar, quando o que ia à frente tropeça, cai, e solta um grito de dor. O outro, imediatamente atrás, interrompe o folguedo, ajoelha-se ao lado do primeiro, e num gesto de compaixão consola o outro, sopra-lhe o ferimento do joelho, ajuda-o a levantar-se, e abraçados, dobram a esquina e desaparecem das vistas do governador.
        A cena vislumbrada remete o governador a lembranças, fazendo-o afundar em pensamentos, reflexões, memórias... Neste estado, ensimesmado, chega ao palácio, fecha a porta de seu gabinete, isola-se, e mergulha sabe-se lá em que recônditos de sua alma, não desejando “ver ninguém nem ser de nenhuma forma incomodado”. O tempo passa e o meio dia chega com suas badaladas, despertando o atônito governador de seu universo reflexivo. Passara do meio dia, e pela primeira vez na história da província a sentença não havia sido assinada - Os prisioneiros estavam libertos!
         A notícia como um raio se espalhou por toda a província. Uma grande alegria tomou conta de todos os cidadãos, ninguém parecia acreditar no milagre.
         Na casa dos dois meninos, que haviam sido avistados pelo governador, a notícia chegou antes mesmo que estes, retornando da rua, tivessem posto os pés na soleira da porta. A mãe ensolarada recebe os dois à porta, exclamando;
“Sabem o que aconteceu? Os prisioneiros foram libertados, não é maravilhoso? Agora venham cá, digam-me, como foi o seu dia, o que vocês fizeram hoje?”
         “Nada!” responderam os meninos, “hoje não fizemos nada, foi um dia ruim, ele caiu, se machucou... a gente nem conseguiu brincar direito..,acho que a gente nem deveria ter saído de casa...”


Eis aqui um pequeno conto..., e uma pergunta. Como esta sendo seu dia, o que é que você fez hoje?   



                                                                                                                                                                            
                                                                                                 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Campo da Noite e o Campo do Dia

Campo do Dia, Campo da Noite e seus Portais

Examinando a polaridade Dia e Noite ou explicito e implícito, ou ainda revelado e mistério, se pode notar que o organizado, arrumado, claro, revelado, nítido e discernido compreende o lado “Dia” da existência, enquanto que o lado escuro, nebuloso, misterioso, sem contornos definidos, o lado do sonho, corresponde ao lado “Noite” da existência.

Necessitamos de transitar em ambos os lados para completar-nos como seres humanos. Temos que mergulhar em ambos os campos para uma vida completa.
De dia: tarefas, lógicas, racionalidades, deduções, planos e clareza, enfim o espaço que pode ser explicado, o plano da consciência, o controlável.
De noite: sonho, mistério, sensações, indefinições, “loucuras”, o inexplicável, o inconsciente, o incontrolável.

Ambos os campos vêm acompanhados de seus elementos e verbos.
De dia: café, luz, abrir os olhos, entender o funcionamento das coisas.
De noite: álcool, drogas, escuridão, fechar os olhos, entregar-se ao fluxo.

Nossa cultura define, pontua e exalta como verdade, ou realidade, o Campo do Dia. Aquele que deve ser reverenciado e considerado verdadeiro. É praticamente uma tradição cultural.
O Campo da Noite é suportado, tolerado e eventualmente aceito como “breve campo de recompensa” se alguém preencheu os predicados do Campo do Dia. O Dia aqui é definido como o “tempo do trabalho” e a noite é reservada de modo geral àquilo que se convencionou chamar de “tempo da diversão”.

O Campo da Noite certamente para muitos funciona como um campo de fuga, e com olhos de ver há muitos que fazem do Campo do Dia, também um campo de fuga, para evitar o contato com dimensões que o Campo da Noite pode trazer.

Para viver o Campo do Dia alimenta-lo e construí-lo é necessário banhar-se na “Noite”. Para viver bem o Campo da Noite é conveniente ter um bom apoio no campo do Dia.

De dia se alimenta o corpo físico que é o veículo e âmbito do Dia. De noite se alimenta a alma que é o veículo e âmbito do Campo da Noite.
Fechando-se os olhos muitas vezes queremos chamar a Noite, ou o Campo da Noite onde se pode alimentar a alma para que esta possa sustentar o corpo do Campo do Dia. 

Alguns seres humanos “considerados insanos” à vista daqueles que reverenciam o Campo do Dia, vivem continuamente no “Campo Noite”. As crianças recém nascidas vivem com um pé claramente no “Campo da Noite” e vão pouco a pouco sendo “chamados” ao “Campo do Dia”. Ao observar o olhar de crianças bem pequenas, vê-se, ou lembra-se fortemente o olhar de certos “loucos” e/ou “santos”.

Como se entra e como se sai de um campo para outro?

Algumas vezes é o simples cansaço que dissolve as barreiras, abre os portais que intermedeiam ambos os campos e permite o lançamento dos seres no “Campo da Noite”.  Da mesma forma as drogas, as bebidas, e... o sexo abrem as portas da noite.

O sexo é um dos portais da Noite, podendo lançar os seres no Campo da Noite. O prazer, a distensão, são elementos que podem levar ao Campo da Noite.  Não é à toa, que é considerado sagrado por algumas culturas. Ele é uma das formas de entrada no Campo da Noite, dos mistérios. Contem o “perigo” do descontrole e da desfiguração, e em seu âmbito expressam-se várias de nossas contradições. Sexo nos desfigura, nos contorce e “despenteia”. Deixa transparecer aspectos ocultos, tão bem preservados nas palavras e gestos apresentados nos salões do Campo do Dia.


Na Noite, se pode ter percepções, vislumbrar imagens, desvendar momentaneamente segredos e, dádiva das dádivas, romper a “seqüência de tempo” elemento tão exaltado e imponente do Campo do Dia.

Há os seres que têm suas vidas comprometidas no Campo Intermediário, vivem nos portais intermediários entre os Campos do Dia e da Noite. São os artistas, seres da intermediação, tantas vezes ambíguos em comportamentos e atitudes - se vistos com olhos do Campo do Dia. São o que são, se vistos pelo olhar do “Campo da Noite”.

Artistas e profissionais do sexo são seres que têm sua existência exaltada na beira do dia ou da noite, e são muitas vezes confundidos exatamente por serem ambos intermediários destes Campos. São seres que anunciam ao Campo do Dia um convite à entrada no Campo da Noite. São seres atraentes, pois acenam com conteúdos essenciais á vida: os conteúdos do Campo da Noite.

O Campo da Noite é um campo “perigoso” segundo o olhar do “Campo do Dia” porque é impregnado pela diminuição do controle, este último um predicado destacado do Campo do Dia.

Certos lugares físicos são possibilidades de portais intermediários entre os Campos. São as boates, teatros, bares de madrugada, lugares onde se escorrega de um campo para outro. São portais. Outro lugar onde se podem encontrar portais são as igrejas e templos. A diferença básica entre os primeiros e os segundos é que nos primeiros há o risco de se “sacrificar” em alguma medida o corpo físico para fazer estas passagens.

Outra diferença enunciada é que um é o campo dos vivos – LUZ, e o outro é o campo dos mortos - ESCURIDÃO.
No Campo da Noite se dissolvem as fronteiras, se dissolve a exatidão e se convive com a indefinição.  
O orgasmo é um das possibilidades de passagem para o Campo da Noite e é corretamente chamado de “pequena morte”. É uma possibilidade de sair do mundo dos “vivos” para o mundo dos “mortos”, onde os contornos dos corpos se dissolvem.

Abraços
Michel
  
  

A Primeira Pessoa

Minhas histórias e a primeira pessoa

          Percebo que é necessário entregar, largar, fechar, dar por encerradas minhas histórias tristes, rancorosas, vingativas, ressentidas, para que elas não permaneçam reverberando e se repetindo em infinitas variações por onde eu for. É necessário que eu abra espaços internos para viver novas histórias. Por isso vejo como necessário abrir mão das paixões pelas minhas histórias antigas. Entendo que “culpa” e “condenação” são “ancoras” que não me permitem abandonar uma história antiga. Vejo “culpa” como uma espécie de paixão, um apaixonar-se por uma história vivida, no caso, má. Condenação é, para mim, a perpetuação de uma história, minha ou do outro, tanto faz, o prejuízo é o mesmo.

          É necessário que eu deseje ter espaço para viver NOVAS histórias. Por isso é importante encontrar, por exemplo, algum tipo de ação que permita um desapego das velhas histórias, para que estas possam ir, e deixar espaço para a vivência de novas histórias. É fundamental desapaixonar-me das histórias antigas, tanto as minhas como a dos outros. Liberar-me de minhas histórias me permite liberar os outros das suas, assim como soltar as histórias dos outros me libera das minhas. As garras congelam a vida. Abster-me de opinar, aconselhar, julgar é liberar o outro e liberar-me da história do outro.

          Às vezes não consigo soltar umas histórias (minhas ou de outros). Suas histórias fazem reverberar minhas historias. Deixo de perceber o outro como outro. Deve ser porque ainda não as integrei totalmente. Ainda não as transformei em algo essencial, em “adubo de vida”.

          Um exercício que tento constantemente é não ficar repetindo para os outros as histórias que me aconteceram, para que eu possa estar aqui, presente, o mais vazio possível, para que eu não fique “gordo” de minhas histórias, para que esta gordura (paixão) não me suba aos ouvidos e me impeça de escutar os outros, me impregne as articulações e não me deixe mover livremente. O desejo que cultivo é o de estar presente, de estar aqui, agora, “magro” de histórias.  Será isso o “colesterol” que impregna os adultos? Há histórias que abrem oportunidades para viver outras histórias e há umas que fecham as possibilidades de viver novas.

        É como armazenar um colesterol ruim e um bom. Umas histórias lubrificam os caminhos enquanto outras impedem o caminhar, o fluxo do sangue, da vida.

        Querer espaços, para viver novas histórias, é fundamental. É o começo da minha “cura”.

        O que quero fazer com minhas histórias? Como deixar ir? Entra o verbo, já cantado em prosa e verso: Perdoar. Perdonare, pardoneé, forgive, etc. que em todas as línguas contém o verbo dar, doar ou deixar ir.

       Um excelente exercício é perceber como me posto diante do outro: se quero me dar uma chance de mudar, esta chance se estabelece quando me abro ao outro. Vejo a importância de, a cada vez, ver o outro com os olhos limpos, como se o visse pela primeira vez. Só mudo quando mudo minha visão do mundo, e os outros são uma parte viva do mundo que me envolve. São expressões de mim
       Posso começar por mim: olho para mim com este mesmo olhar, o olhar de me ver sem o “já sei”, “já conheço”, “já sei o que esperar”. Esta postura me permite ver e sentir como uma criança (sem colesterol), sem julgamento e, sobretudo, sem condenação.

       Falar na primeira pessoa é também um passo para liberar-me da minha velha história. Quando falo envolvendo outras pessoas (‘a gente’, ‘você’, ‘as pessoas’, etc.) “ancoro”, “engorduro” minha história nos outros, e acabo me escravizando à minha história, aumento o peso da minha história, e desta maneira dificulto minha transformação. Dificulto também que os outros escutem minha história sem julgamento, porque os arrasto para dentro de minha história, criando em quem ouve ponderações e comentários internos com relação ao que estou expondo. Desta forma impeço que escutem minha história. Pior, impeço que eu mesmo escute minha história para que finalmente eu a largue. Só posso me liberar de minhas histórias quando assumir que são minhas, que sou eu que as estou mantendo, ninguém mais.


     Falar na primeira pessoa, a partir do que vivi, da minha experiência, do que vejo, do que intuo, do que penso, é minha contribuição ao mundo quando me expresso.
Quando digo: a gente..., as pessoas..., o ser humano..., aí você..., etc., estou de certa maneira anulando o outro. Impondo uma descrição da realidade à todos. Estou, portanto, reduzindo meu universo.
Estou desta forma anulando a contribuição dos outros para a Visão maior, para a visão mais total. Para a percepção maior.

   Há, que se admitir que há uma verdade em falar: nós, a gente, o ser humano, as pessoas, etc. É a intuição de que em um nível somos Um. Somos uma unidade, mas por outro lado, como somos todos parte do “Um”, o que faço, ao falar envolvendo outros, é abolir as outras partes do Todo, deste “Um” (que inclui os outros) que sou eu, estou diminuindo o, espaço de minha consciência. Reduzindo-a. Assim não permito que “outras partes de mim” possam vir me ajudar.

 

Futuro é Tempo do Coração

FUTURO É TEMPO DO CORAÇÃO
ou Futuro é depois de agora

              É necessário revermos nossas idéias de futuro. Vivemos uma realidade aceleradamente imprevisível, portanto toda a tradicional cultura que envolve a exaltação da previdência bordeja o irônico. Uma rápida leitura dos jornais comprova diariamente este fato. Uma curiosidade notável é que em nosso país, em língua portuguesa corrente, já deixamos há tempo de conjugar o futuro. O “vou fazer”, “vou realizar”, e assim por diante – associação de presente com infinitivo – substituíram irremediavelmente o “farei”, “realizarei” e qualquer outro verbo. Perdeu-se a força da afirmação que os verbos assim conjugados exprimem. (Os neuro lingüistas que façam a festa).

              As incertezas diárias não comportam mais os ensinamentos que de alguma maneira continuamos, como papagaios, a repetir para nossos filhos. Torna-se cruelmente evidente que não cabe mais entoar a canção que diz: esforços, dedicações e similares levam  “a alcançar um lugar na vida”. O não compromisso, a esperteza, a corrupção, o enganar o próximo passaram de atitudes ilícitas para uma atordoante normalidade. Há uma discrepância imensa entre o que se ensina e a realidade que nos envolve. No entanto continua-se a repetir à exaustão chavões como: “estude para ser alguém”, “é com esforço que se chega lá”, citando exemplos de pessoas que passaram a ser exceções. Critica-se amargamente a realidade com suspiros de desistência : “o que é que se pode fazer?...”, ou com pensamentos raivosos de “está tudo errado” implicando por vezes a idéia de que “se eu fosse Deus faria melhor”.

              Abundam por toda parte modelos pouco dignos, e o que é pior reverenciados. O pragmatismo, competição e seus derivados tomaram o lugar do sonho. O sonho, que é rascunho do futuro, virou “perda de tempo”. A pergunta que se impõe é: É possível viver sem sonhos? O que realmente aconteceu?

              Se analisarmos bem esta questão podemos perceber que o que temos feito é jogado fora a criança com a água suja da bacia, ou seja, o que está em extinção não são exatamente os sonhos mas as muitas formas ocas e cristalizadas que acostumamos a enunciar como sendo sonhos, e que estão ruindo junto com as demais instituições. São imagens antigas que perderam vigência e às quais foram agregadas algumas outras cozinhadas por marqueteiros, e vendidas ininterruptamente pela televisão e “outdoors”. É urgente lembrar que o coração, verdadeiro órgão do sonho, sonha numa linguagem essencial, e uma essência não desaparece. O que é necessário portanto é recontactar o coração e a possibilidade de sonhar sem apego às formas. Em outras palavras poderíamos dizer que estamos sendo obrigados a sonhar de verdade, pois o que perdemos, certamente, foi o contato com o coração, com a essência.

              Por outro lado, há que se admitir, o imediatismo chegou intenso e devastador, alimentando o narcisismo infantil de toda uma nova geração, e chegou também a serviço de seus pais, perdidos e sem tempo. Este imediatismo, veio como um irmão da informática e do consumo, e patrocinando toda uma cultura, que passa pelo crédito rápido (compre- agora-pague-depois), auto ajuda (eu-me-cuido-sozinho), “fast-food” (engula-rápido-e-siga-em-frente), pirataria (pegue, nada-tem-dono), self service (coma sozinho), auto-atendimento bancário (resolva suas contas por conta própria), sexo virtual (sexo sem contato) e outras drogas. Temos nos iludido com o fato de que ao termos muitas informações (ou imagens) possuímos sabedoria e o controle das coisas. Os eventos que se precipitam, em contraponto ao refúgio da realidade virtual, vêm demonstrando de forma implacável nossa impotência. Os meios de comunicação multiplicaram-se em quantidade, tipos e velocidade, na razão inversa de nossa confiança nos relacionamentos daí originados.

              Aqui estamos adentrando um novo século, atônitos. Nos tornamos produtores e vítimas de uma estupenda ansiedade que detona enfartes, pressões altas, obesidades, metabolismos loucos, acidentes, suicídios, homicídios, e mais recentemente parricídios e outras ações ensandecidas.

              Nossa linguagem e nosso modo de descrever os fatos, não servem mais para abordar e nos relacionar com a realidade que nos envolve. É preciso encontrar novas formas de conjugar o futuro.

              Apesar da famosa afirmação de que “Não há nada de novo sob o sol”, alguns fatores que nos envolvem são inéditos em nosso ambiente planetário. O número de pessoas no mundo é muito maior do que jamais foi, o número de encontros possíveis entre o seres humanos aumentou numa escala astronômica - o que por si determina comportamentos ansiosos e bastante diferentes daqueles estabelecidos e já estudados por nossa cultura vigente. Um fator talvez pouco considerado na avaliação de eventos é que seres humanos, por sua mera presença, são multiplicadores de sensações, sentimentos e pensamentos, gerando muitas forças invisíveis e mudas que facilmente irrompem de modo inesperado na forma de violências. A possibilidade de se ocultar algum fato hoje é bem menor. As coisas podem ser praticamente “captadas” no ar ainda que muitas vezes de forma não completamente consciente e portanto gerando mal estares.

              Não nos ensinaram o que fazer e como fazer nesta situação inédita pela qual o planeta esta passando. Não há receita publicada, nem história precedente das quais tirar lições. É um momento novo, em que é fundamental assumirmos não somente nosso aspecto criativo mas nosso aspecto criador. Se por um lado o criativo traz maneiras novas de se relacionar com algo conhecido, ou novas formas de realizar algo já feito (algumas vezes encobrindo velhas posturas com novas embalagens), o criador encontra maneiras de relacionar-se com algo desconhecido, as vezes trazendo consigo certa perplexidade. Manifesta algo inédito, original como: dizer algo nunca dito, pensar algo nunca pensado, ou fazer algo nunca feito. É preciso uma escuta mais profunda, uma enorme respiração, e uma grande coragem para iniciarmos movimentos que nunca foram feitos antes.
       
              O desafio é lançar-se neste caos sem referências passadas. Dá medo mas, algumas atitudes podem facilitar esta busca do novo, do criador. Pode-se começar por interromper os obsoletos discursos moralistas e a sedução das explicações puramente técnicas e acadêmicas, e humildemente (predicado escasso nestes tempos) abster-nos de sair discursando sem o coração posto nos enunciados, e finalmente admitir nossa confusão, incongruência, desorientação e conseqüente incapacidade de guiar com clareza as novas gerações. Isto pode nos levar à criativa região do silêncio (outro ingrediente raro nestes tempos) onde poderá se buscar compreender o que se passa (algo bastante diferente de simplesmente entender, ou ter informações).

              Produtos associados do silêncio: a reflexão, compreensão, imaginação, acolhimento, calma, compaixão, profundidade e a possibilidade de deixarmos a intuição emergir, a meu ver, devem ser cultivados em contraponto a excessiva reverência pelas atitudes masculinas, heróicas e acadêmicas, que determinam que os problemas se resolvem exclusivamente pela racionalidade, técnica, determinação, imposição, força, assertividade, conquista, superação, precisão, distanciamento e outros assemelhados. É importante não confundir essas atitudes receptivas com complacência, frouxidão ou falta de energia.

              Certamente esta preparação passa pelo resgate dos pequenos gestos cotidianos. Afinal o mundo não é apenas o que sai no jornal, ele é sustentado pelo invisível oculto no cotidiano. Pela respiração das crianças na escola, pelos gemidos dos amantes na cama, pelas mães cozinhando, pelos jardineiros ajoelhados atrás das flores, por risadas no bar, por pensamentos que preparam festas, por cada pequeno prazer sem razão. É questão de associar-se aos que estão sonhando desde seus corações, acreditando, planejando e realizando. Eles existem. Olhe em volta.
       
Michel Robin Rabinowitz

Momento

 As interações estão mais intensas. Tudo é transmitido muito rapidamente. As impressões do tipo "eu já sabia", “pode crer”, aumentam a cada dia. Existem coisas que são transmitidas de alma para alma, sem intermediários. Os processos são intensos e as almas estão aceleradas. Estamos entrando como humanidade em outros "tempos". O "grau energético" do mundo aumenta a cada dia. Não somos a humanidade que existia há 10, 20 ou 30 anos atrás. O DNA humano está sofrendo mutações. As crianças de hoje não são as “panacas” que fomos.  
Os esotéricos dizem que a Terra está passando por uma iniciação. Passando para um nível sagrado. O sagrado tem uma intensidade e grau energético mais alto. A “densidade humana” está diminuindo, em totalidade. Os acontecimentos não têm mais tempo para interpretações didáticas (primeiro isso, depois aquilo, em seqüências que determinamos como lógicas). Tudo pode acontecer dentro de uma lógica diferente, mais intensa. As coisas estão submetidas ao arraste da elevação de energia do planeta.
 Há umas pessoas que estão mais "elevadas" em termos energéticos humanos. Pensamento, sentimento e ação têm uma exigência de maior integração e as conexões internas e externas estão mais intensas e enérgicas com tempo de duração mais imprevisíveis. Não há mais necessidade, como antigamente, de tantas vivências para chegar a uma consciência maior. Pode-se saltar etapas que eram necessárias em outras épocas. Há maior compreensão e menos palavras para ficar explicando.  As velocidades eletrônicas e de todo tipo que foram criadas, ou melhor, que criamos, são uma representação de nós mesmos. E nós, num circulo vicioso (ou virtuoso) recebemos daquilo que criamos.
O fato de que agora sentimos e apregoamos que é necessário o pensamento em conjunto, coletivo, em rede, é parte desta aceleração. Temos que nos admitir, mais rápidamente como co-participantes dos pensamentos, sentimentos e ações que nos envolvem. Não há mais tempo para cada um de nós fazer os percursos sozinhos, um de cada vez. É importante parar a competição burra e perceber-nos como uma unidade/humanidade em constante atualização.